Do Culto Sagrado ao Coro do Carnaval: A origem das representações teatrais no ocidente, suas influências na festa da carne e a representatividade em Leopoldina, MG

Alan Villela Barroso[1]

 

A origem do carnaval advém, historicamente, do surgimento do Teatro, na Grécia Antiga, das antigas tradições populares de adoração aos deuses da mitologia, como Dioniso, deus do vinho e da fertilidade, responsável pela fartura e prosperidade dos povos gregos. Cultuado em rituais religiosos onde a manifestação divina se expressava através de cantos e danças, sagradas e profanas, Dioniso era a personificação dos prazeres e sacrifícios carnais, pelo entrelaçamento dos corpos em festa, nas fartas rodas de orgias e alegrias. Segundo Margot Berthold, em História Mundial do Teatro:

Dioniso, a encarnação da embriaguez e do arrebatamento, é o espírito selvagem do contraste, a contradição extática da bem-aventurança e do horror. Ele é a fonte da sensualidade e da crueldade, da vida procriadora e da destruição letal (BERTOLD, 2014, p. 104).

Baco, na mitologia romana; Exu, sob uma perspectiva moderna na mitologia yorubá; ou Dioniso, na mitologia grega. Todos criadores e criaturas manifestas em instintos criativos, nos pulsos de vida que procriam a criação. Cultuado nos grandes festejos religiosos, em rituais mitológicos e nos ritos da carne e do corpo, Dioniso foi um deus amplamente cultuado por toda Antiguidade Ática. Para Bertold:

 

Os festivais rurais da prensagem do vinho, em dezembro, e as festas das flores de Atenas, em fevereiro e março, eram dedicados a ele. As orgias desenfreadas dos vinhateiros áticos honravam-no, assim como as vozes alternadas dos ditirambos e das canções báquicas atenienses (BERTOLD, 2014, p. 103).

 

Dos rituais e cultos dionisíacos, desenvolveram-se personificações cênicas, compostas de figuras e ações, como a dança ritmada, os coros musicais que compunham a orquestra, além da caracterização com adereços e máscaras grotescas. De acordo com Patrice Pavis (2008), a expressão coro originou-se:

Do grego khoros e do latim chorus, grupo de dançarinos e cantores, festa religiosa. […] Desde o teatro grego, coro designa um grupo homogêneo de dançarinos, cantores e narradores, que toma a palavra coletivamente para comentar a ação, à qual são diversamente integrados (PAVIS, 2008, p. 73).

Pelo caráter ritualístico e artístico presentes nas manifestações religiosas, somada ao canto, a dança e a representação, no berço de Atenas, conceberam-se a Tragédia e a Comédia, os dois gêneros teatrais clássicos da Grécia Antiga e, assim, Dioniso, tornou-se o deus do Teatro.

O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA E DA COMÉDIA NA GRÉCIA ANTIGA

A palavra tragédia, de acordo com o Dicionário de Teatro, originou-se da expressão grega tragoedia, “canto do bode – sacrifício aos deuses pelos gregos” (PAVIS, 2008, p. 415). Uma prática religiosa responsável pelo amadurecimento da tragédia na Grécia Antiga foram os rituais de fertilidade realizados por sátiros dançantes e seus coros de cantores, vestidos com máscaras de bode que, “originalmente cantavam em homenagem ao herói Adrasto […] Por razões políticas, Clístenes, tirano de Sícion desde 596 a.C., transferiu tais coros de bodes para o culto a Dioniso, o deus favorito do povo da Ática”. (BERTOLD, 2014, p. 104).

Arion de Lesbos, em 600 a.C., aprimorou os elementos artísticos e performáticos nos ritos de culto aos deuses e a vegetação, concebendo uma visão poética dos rituais, organizando os coros de cantores com máscaras de bode em sincronia com os ditirambos, que acompanhavam, em canto e ritmo, o cortejo poético. “Assim, ele encontrou uma forma de arte que, originada na poesia, incorporou o canto e a dança, e que duas gerações mais tarde levou, em Atenas, à tragédia e ao teatro” (BERTOLD, 2014, p. 104).

Como observado, o uso da máscara no teatro ocidental relaciona-se, historicamente, aos rituais e as práticas religiosas da Grécia Antiga, sendo comumente utilizadas nas festas tradicionais e nos cortejos destinados aos deuses gregos, como as celebrações a Dioniso. De acordo com o Dicionário do Teatro Brasileiro:

Relacionada à tradição religiosa e à mitologia, a máscara está presente na origem do teatro grego. É largamente utilizada em festejos populares […]. Tanto as cerimônias rituais quanto as práticas teatrais trazem em si o espírito da metamorfose, o transcender o ser, em que o velamento ou o desvendamento possibilitam uma consciência mais aguda desse ser (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2009, p. 195-196).

Logo, tanto nas tragédias, como nas comédias, o uso da máscara tornou-se característica na teatralidade Ática e ocidental, permitindo ao ator a experiência do desdobramento poético. Do komos, expressão grega utilizada para designar as orgias realizadas por cavalheiros que “se despojavam de toda a sua dignidade por alguns dias, em nome de Dioniso, e saciavam toda a sua sede de bebida, dança e amor” (BERTOLD, 2014, p. 120), surgiu a comédia, ou komedia, a “canção ritual por ocasião do cortejo em homenagem a Dioniso” (PAVIS, 2008, p. 52).

PELO AMOR DA DEUSA: #RepresentatividadeDivina

Figura representativamente cômica presente na mitologia grega, em peças e ritos dos povos da Ática. A divindade dos poetas: Deusa Momo, considerada a personificação da ironia, do deboche e do sarcasmo. Filha de Nix, a Noite, Momo possui como elementos característicos o seu chapéu de guizos, uma máscara em uma das mãos e um boneco na outra, este último, representando a loucura. Destaca-se pelo seu caráter despojado de formalidades e pela lábia sincera, por vezes, raivosa, que a fez ser expulsa, por Zeus, do Monte Olimpo.

De acordo com a matéria Qual a Origem do Rei Momo?, publicada na revista Super Interessante, as primeiras representações de Momo ocorreram na Grécia Antiga e os registros históricos “dão conta que os primeiros reis Momos de que se tem notícia desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C.” (QUAL A, 2011, s/p), consideradas figuras marcantes durante os cortejos dedicados à Dioniso. Interessante destacar que, em Portugal, o Momo foi um gênero teatral datado de um período que antecede o teatro vicentino. Segundo REBELLO apud GUINSBURG et al. (2009, p. 204), “a palavra momo usa-se para designar, indiferentemente, tanto a própria representação, o próprio espetáculo em si, como as personagens mascaradas que nesse espetáculo participavam e os trajes e máscaras nela envergados”.

Historicamente, Momo se transformou na figura representativa do poder, da fartura e liberdade, diferenciando-se por seu jeito brincalhão e seus abundantes festejos. No Brasil, nas primeiras décadas do século XX, surgiu “a tradição de eleger um Rei Momo durante o Carnaval […] no Rio de Janeiro, em 1933. Naquele ano, a coroa foi entregue ao jornalista Morais Cardoso, que ocupou o trono até morrer, em 1948 (QUAL A, 2011, s/p).

TEATRO E CARNAVAL EM LEOPOLDINA – Um Tópico Sobre: Arte e Vitalino Duarte.

Festejo advindo dos rituais dionisíacos, o carnaval mantém sua tradição em ser uma festa popular, voltada para as massas, pautada na liberdade e na diversidade de expressões, de danças, músicas, poesias e alegorias, sendo o público, o ator-folião, convidado a participar desta festa coletiva e simultânea, com adereços, máscaras ou fantasias, onde o mesmo observa, representa e experimenta personagens e papéis sociais, descobrindo-se em novas maneiras de fruir, sentir e explorar os prazeres do corpo, da mente e da carne.

No Brasil, a história do carnaval inicia com a chegada dos portugueses, a partir da ocupação das terras indígenas, processo denominado colonização portuguesa, que também resultou na escravidão de povos africanos. De acordo com a matéria publicada pelo portal Brasil Escola, no Brasil:

Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos. Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais também foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil (PINTO, 2019, s/p).

Grande e popular, o carnaval tornou-se a festa mais celebrada do Brasil, sendo tradição nas principais cidades de interior. Leopoldina, município localizado na região da Zona da Mata de Minas Gerais, destaca-se pela tradição do carnaval em sua cultura e no imaginário coletivo de seus habitantes. Entre os muitos protagonistas responsáveis por essa tradição, destaca-se o nome de Vitalino Duarte (1932-2003), ou Mestre Vitalino, um artista que dedicou-se a fomentar a arte e a cultura popular em Leopoldina e região. Pessoa e personagem, Vitalino transitou entre o teatro, o circo e a performance, como bem demonstra a reportagem biográfica Vitalino da Arte, Vitalino Duarte, do escritor e jornalista Luciano Baía Meneghite:

Nascido na Fazenda Copacabana em 15 de agosto de 1932, filho de Vitalino Izá Duarte e Maria Amélia Duarte, que só estudou até a segunda série primária, se não tinha certos dotes artísticos, tinha espírito livre de artista. […] Vindo para a cidade fez bicos diversos para sobreviver, sem nunca se afastar das festas folclóricas e religiosas. E assim nasceu o palhaço ou Papai Noel sempre com um megafone em punho a anunciar pelas ruas da cidade suas festas ou promoções do comércio. No carnaval se tornou mestre marcando presença por cinco décadas seja com sua boneca baiana ou com a simples, mas marcante “Escola de Samba Acadêmicos de Leopoldina”. No rádio era presença constante, seja cantando, apresentando ou apenas como convidado. Se não falava, lia ou interpretava bem, tinha carisma e teimosia suficientes e isso o fez peça fundamental na preservação e propagação das tradições culturais de Leopoldina e região (MENEGHITE, 2014, s/p).

Vitalino Duarte morou por muitos anos na Rua do Sindicato, em um quarto entupido de figurinos, cenografias e fantasias, localizado a cerca de cem metros de distância de onde nasceu o autor que escreve estas linhas. Tive, portanto, a oportunidade de conhecê-lo e de ser atingido, enquanto espectador e artista, por seu amor e dedicação pelas artes, entre os inúmeros festejos e cortejos pelo bairro da Fábrica, carregados de ritmos, cores e sonoridades.

Falecido em 2003, deu nome à Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Leopoldina, aprovada em 2017, suprindo uma lacuna no município e homenageando o legado deste inesquecível artista. A Lei Vitalino Duarte visa firmar parcerias, fortalecendo e desenvolvendo uma economia criativa na cidade, por meio de incentivos fiscais a projetos culturais, democratizando o acesso aos diferentes produtos artísticos e saberes populares. Ao valorizar a cadeia de artistas locais, a Lei objetiva movimentar os setores turístico, gastronômico e hoteleiro, através da geração de renda e capital, aumentando a expectativa no índice de empregabilidade temporária e permanente na região, estimulando a participação ativa da comunidade na concepção de novas formas de compreender, consumir e produzir arte no município.

COMMÉDIAS, CONFETTIS E PHANTASIAS: Quando o Theatro Alencar abriu as portas da alegria #CulturaPopularLeopoldinense

Entre o final do século XIX e o início do século XX, o município de Leopoldina, é historicamente marcado pela criação de suas instituições e pela formação cultural, literária, política e intelectual de sua sociedade. Neste período, destacam-se o surgimento da imprensa no município em 1879, através da criação do jornal O Leopoldinense, bem como a inauguração do Theatro Alencar em 1883, importante casa de espetáculos, cujo prédio, reformado no ano de 1927 em estilo neoclássico, encontra-se conservado na Rua Barão de Cotegipe, hoje, abrigando uma igreja.

Palco das principais representações dramáticas e convenções sociais, o Theatro Alencar, por inúmeras ocasiões, recepcionou o carnaval leopoldinense, oferecendo aos freqüentadores os famosos bailes a phantasia e as divertidas comédias encenadas especialmente para os dias de festa. A companhia dramática dirigida pela atriz e empresária Amelia Escudero chegou a Leopoldina no mês de janeiro, apresentando-se até 22 de abril de 1883, após uma temporada na cidade de Cataguases. Foi a Cia. responsável em inaugurar o Theatro Alencar no dia 19 de janeiro de 1883. Na ocasião, cerca de cento e quarenta espectadores ocuparam as arquibancadas do Alencar, satisfazendo “a mais vital aspiração do publico leopoldinense[2]”, a criação de um teatro público no município. Não foram mencionados os espetáculos representados durante a estreia.

No carnaval leopoldinense de 1883, a Companhia Escudero ofereceu três noites de espetáculos no Theatro Alencar, respectivamente em 04, 05 e 06 de fevereiro. No primeiro dia, foi encenada a ópera-cômica em 3 atos O Fantasma Branco, do dramaturgo brasileiro Joaquim Manuel de Macedo[3] (1820-1882), “porém o mau tempo não deu logar a que o espectaculo fosse concorrido como se esperava[4]”. Já em 05 de fevereiro, foi representado o drama em 1 ato Furto Abençoado, escrita especificamente para os irmãos François e Antonina Escudero, seguida da reapresentação de O Fantasma Branco. De acordo com a imprensa local, o desempenho da Cia. Escudero foi executado com perfeição, sendo o elenco ovacionado por aplausos, “ao ponto de se interromperem por mais de uma vez. Um espectador prestava tanta attenção á comedia que quando Galatéa mandou Maria pôr a língua de fóra, elle foi o primeiro a estender uma de palmo[5]”. Ressalta, ainda, a ausência da orquestra durante as representações, exceto pelo piano que “de vez em quando fazia-se ouvir acompanhando a alguem que com voz argentina prendia a attenção dos espectadores[6]”.

Não foram mencionados os espetáculos do dia 06, apesar da noite ser descrita como extraordinária. O articulista do jornal O Leopoldinense aponta a preferência do público pelo gênero cômico, já que “a maior parte dos leopoldinenses gosta de comedias, porque estas fazem rir e divertem[7]”. Evidencia a participação de artistas locais junto à Cia. Escudero, através de um grupo de amadores que “formaram em um momento excellente banda musical que executou walsas, mazurckas e habaneiras lindíssimas[8]”. Durante o intervalo do espetáculo, analisa a convenção social formada no interior do teatro, descrevendo as interações entre os espectadores:

Quando os músicos descançavam, as damas mais bellas da nossa sociedade, agitando seus leques de madreperola, quebravam o silencio com animadíssima conversação cheia de verve. Um dos bancos da frente foi occupado por um grupo carnavalesco, que não cessou de fazer rir toda a platéa. O perfume suave, que exhalavam as flores que bordavam as cabecinhas amorozas, fazia pulsar de contentamento todos os corações (O LEOPOLDINENSE, a. IV, nº. 07, 1883, p. 4).

Durante o benefício da atriz Amelia Escudero, ocorrido em 17 de fevereiro, houve completa lotação do teatro, sendo representado o drama A Virgem do Mosteiro, tradução de Souza Azevedo, “houve completa enchente: os bancos, as cadeiras e as galerias estavam tomados de dilettantes. Difficilmente encontrava-se um pequeno espaço para de pé, como se se estivesse metido em um espartilho assistir um ou outro acto[9]”. Finalizou o programa com um bailado espanhol, “no qual o Sr. Pascoal (ou alguem por elle) e seus companheiros, por mais de uma vez tiveram de vir ao proscenio receber palmas e ovações[10]”. No dia 18 de fevereiro, “houve um espectaculo variado, que muito agradou[11]” e em 25 de fevereiro, foi representado pela primeira vez em Leopoldina o melodrama em 5 atos A Graça de Deus[12], do dramaturgo francês Adolphe D’Ennery (1811-1899), com participação de todo o elenco da Cia. dramática.

 

NOTAS

[1] Discente do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

[2] O Leopoldinense, ano IV, nº 04, 21 de janeiro de 1883, p. 2.

[3] BASTOS, Sousa. Carteira do Artista: apontamentos para a história do Theatro Portuguez e Brazileiro. Lisboa: Antiga Casa Bertrand-José Bastos, 1898, p. 237.

[4] O Leopoldinense, ano IV, nº 07, 11 de fevereiro de 1883, p. 4.

[5] Ibid.

[6] Ibid.

[7] Ibid.

[8] Ibid.

[9] O Leopoldinense, ano IV, nº 09, 25 de fevereiro de 1883, p. 2.

[10] Ibid.

[11] Ibid.

[12] BASTOS, Sousa. Carteira do Artista: apontamentos para a história do Theatro Portuguez e Brazileiro. Lisboa: Antiga Casa Bertrand-José Bastos, 1898, p. 228.

 

*

ANEXO

CARNAVAL

__________________

 “Evohé! Carnaval! Elle ahi está, leitor, e com elle o reinado pleno da loucura e da folia! Já hontem se notava pela cidade um desusado movimento, um grande enthusiamo pelas festas que começam hoje! Evohé! Carnaval!… Esta por toda a parte o riso franco, a gargalhada victoriosa. Momo ahi está, Deus victorioso da alegria infernal, da algazarra e da folia. Ri com elle, leitor! Deixa esse tom casmurro com que atravessas 362 dias do anno e nesses trez rapidos dias em que o seu reinado impera entre os homens, ri, canta, pula, dança! Anda por tudo um enthusiasmo imprevisto! Campeia pelas ruas a mocidade alvorotada, nas pugnas gloriosas da folia e da loucura!

Notava-se hontem á noite, na cidade, um desusado movimento. A mocidade de nossa terra, sempre avida de rir e de folgar, desde hontem se entregava aos folguedos carnavalescos. O “confetti” dançou nos ares, e os lança-perfumes encheram o espaço de um activo perfume de ether e essencias. Carnaval!

No parque Felix Martins, o lindo logradouro publico do largo do mesmo nome que é o ponto de reunião, ás tardes, das familias leopoldinenses, realizou-se hontem uma grande batalha de confetti entre rapazes e senhoritas de nossa sociedade.

Hoje, realisa-se no Theatro Alencar o primeiro dos dois grandes bailes carnavalescos levados a effeito pela nossa mocidade. Os ultimos preparativos para isso já se acham terminados e o Alencar, magnificamente adornado, apresenta um lindo aspecto. A commissão encarregada da expedição de convites fez distribuir hontem os mesmos ás familias leopoldinenses, e serão sem duvida concorridissimos, dado o enthusiasmo reinante para o mesmo. A Gazeta recebeu para elles um gentil ingresso, que muito agradece.

Os “cordões” que, durante tres dias de folguedos sahirão á rua emprestando ao carnaval deste anno, entre nós, uma nota verdadeiramente chic, fizeram hontem os seus ultimos ensaios e preparatorios. São elles os das Camponezas, das Italianas, dos Pierrots, e dos Maitacas. Sabemos que um novo cordão se prepara para os festejos: – o Bloco das Japonezas, constituido de distinctas senhoritas de nossa cidade. Assim, pois, se revestirá inquestionavelmente de um brilho extraordinario, o Carnaval deste anno.

Percorreu hontem as ruas da cidade um Zé Pereira formidando e ensurdecedor. Hoje, ás 4 horas da tarde, em pleno reinado da folia, um outro Zé Pereira abalará, numa algazarra infernal, as ruas de Leopoldina.

Hontem, ás 7 horas da noite, distinguiu-nos com a sua visita uma commissão de distinctas senhoritas do Bloco das Japonezas, que em nosso escriptorio cantaram alguns versos dos quaes conseguimos apanhar estes:

“Tentei fazer um véo

De seda fina,

Para ter luxo e gosto

Em Leopoldina.

Di-di, Ná-ná,

P’rá lá, vem cá,

Vem cá!

Adeus! Oh minha gente

Até a vista…

Então repetiremos

Nossa revista

Tão-tão, Tão-tão

Viva o bom

Japão!”

O Bloco das Japonezas, deverá sahir á tarde, de carro, percorrendo a nossa cidade.

O Cordão das Maitacas, que é constituido de gracis meninas até dois annos, será uma nota encantadora nos folguedos projectados para a recepção de Deus Momo. Evohé! Carnaval!

Está organizado o Bloco das Cabecinhas Vermelhas. E’ constituido exclusivamente de creanças e promette ser uma nota chic nas festas de Momo. Uma gentil representante do Bloco das Cabecinhas Vermelhas distinguiu-nos hontem, á noite, com a sua visita e disse-nos que o bloco fará nos grandes tres dias coisas do “arco da velha”. Saudamos os cabecinhas vermelhas!

Um grupo de socios do Ribeiro Junqueira Foot Ball Club pretende organizar para amanhã um “match” a phantasia.”

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTOLD, Margot. História Mundial do Teatro. 6º. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.

CARNAVAL. Gazeta de Leopoldina, ano XXI, nº 252, 05/03/1916, página 4. Leopoldina: MG, 1916.

CASCUDO, Luis da Camara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 2000.

GUINSBURG, J.; FARIA, João Roberto; LIMA, Mariangela Alves de. Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos. 2ª ed. ver. e ampl. – São Paulo: Perspectiva, Edições SESC SP, 2009.

MENEGHITE, Luciano Baía. Vitalino da Arte, Vitalino Duarte. Leopoldinense. Leopoldina, MG, 2014. Disponível em: <https://leopoldinense.com.br/noticia/353/vitalino-duarte>. Acesso em: 06 de março de 2019.

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. 3ª ed. – São Paulo: Perspectiva, 2008.

PINTO, Tales dos Santos. História do Carnaval e Suas OrigensBrasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval.htm>. Acesso em 05 de março de 2019.

QUAL A Origem do Rei Momo?. Revista Super Interessante. São Paulo: Grupo Abril, 2011. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-a-origem-do-rei-momo/>. Acesso em: 04 de março de 2019.

THEATRO E….O Leopoldinense, ano IV, nº 07, 11/02/1883, página 2. Leopoldina: MG, 1883.

NOTAS

[2] GUINSBURG, J.; FARIA, João Roberto; LIMA, Mariangela Alves de. Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos. 2ª ed. ver. e ampl. – São Paulo: Perspectiva, Edições SESC SP, 2009, página 204.

[3] Publicado em Panorama do Teatro em Leopoldina, um blog WordPress, 2018-2019. Disponível em: <https://theatroalencar.wordpress.com/cronologia-do-teatro-em-leopoldina-anos-finais-do-seculo-xix-1880-a-1899/>. Acesso em: 05 de março de 2019.

[4] THEATRO E….O Leopoldinense, ano IV, nº 07, 11/02/1883, página 2. Leopoldina: MG, 1883.

[5] CARNAVAL. Gazeta de Leopoldina, ano XXI, nº 252, 05/03/1916, página 4. Leopoldina: MG, 1916. Diretor: Dr. Ribeiro Junqueira. Fonte de acesso: Biblioteca Municipal de Leopoldina, Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira.

ANEXO

Imagens

Theatro e...
Reportagem Theatro E…, publicada no jornal O Leopoldinense, ano IV, nº 07, 11/02/1883, página 2. Leopoldina: MG, 1883. Disponível em: . Acesso em: 06/03/2019.

Reportagem Carnaval, publicada no jornal Gazeta de Leopoldina, ano XXI, nº 252, 05/03/1916, página 4. Leopoldina: MG, 1916. Disponível para consulta na Biblioteca Municipal de Leopoldina.

*Sobre o autor: Alan V. Barroso é professor na Secretaria de Educação de Minas Gerais, em Leopoldina. Discente do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas – PPGAC, da Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP. Licenciado em Artes Cênicas (UFOP) e especializado em Cultura em Literatura (FESL).

Conversando Sobre: O Alencar / TAKE 1: Café com Carminha e os anos dourados no Cine Theatro Alencar

Apresentamos o programa “Conversando Sobre: O Alencar”, com o objetivo de resgatar histórias e compartilhar memórias, sobre as diferentes fases do Teatro: o Theatro Alencar (Século XIX); o Cine Theatro Alencar (Século XX) e o Cine Alencar Século XXI). Através de entrevistas e conversas, alimentaremos um Banco de Causos Populares, disponíveis em dois diferentes formatos: o Vídeo e o Podcast.

take 1
Foto: Maria do Carmo de Oliveira. Créditos: Alan Barroso.

Abrimos o “Conversando Sobre: O Alencar“, relembrando os anos dourados da década de 60, com as matinèes e os seriados de bang bang, que aconteciam semanalmente no Cine Theatro Alencar, neste bate papo delicioso, regado à memórias e café, com a querida Maria do Carmo Oliveira, a Carminha, personalidade leopoldinense, de nascença e coração.

No Podcast: Será sempre uma versão estendida, pois você escuta o programa sem (muitos) cortes e com minutos adicionais da conversa.

No vídeo: Assista ao primeiro programa e não esqueça de se inscrever em nosso canal no Youtube.

Ah! Caso você tenha alguma história ou curiosidade, e gostaria de contribuir com o Conversando Sobre: O Alencar, por favor, entre em contato para combinarmos um café!

1901 – Quando o Circo Phenomenal chegou na cidade.

Circo Phenomenal.
Hoje – Hoje
Duas Funcções!!

Grande matinée a 1 hora da tarde, devendo terminar as 3 horas em ponto. As 9 horas da noite um variadíssimo espectaculo, FESTA ARTISTICA, despedida da companhia.

AO CIRCO! – AO CIRCO!
O representante – Ataliba Ramos.
gazeta. 02-06-1901. n.7. a.7p.4. anúncio circo phenomenal (2)
Fonte: Biblioteca Municipal de Leopoldina, 2018. Pesquisa: Alan Barroso

Em maio de 1901, o Circo Phenomenal chegou em Leopoldina, oferecendo uma série de apresentações e números circenses. Sob direção dos srs. Mendes & Colman, estreou no dia 11 de maio de 1901, no Largo Visconde do Rio Branco.

Escute este conteúdo:

Escute este conteúdo:

O Circo Phenomenal permaneceu em Leopoldina até início do mês de junho, quando participou dos festejos populares que ocorriam anualmente, dedicado ao Mês de Maria, realizados nos dias 01 e 02 de junho de 1901.

Abaixo, assista ao registro imagético das matérias publicadas na Gazeta de Leopoldina, em 1901 (ano 7), que noticiaram as apresentações oferecidas pelo Circo Phenomenal, durante a curta estadia na cidade:

Inscreva-se em nosso canal no Youtube e receba nossas atualizações!

Fontes de informação:

Gazeta de Leopoldina, n° 04, ano 7, 12 de maio de 1901, pág. 2​. Gazeta de Leopoldina, n° 05, ano 7, 19 de maio de 1901, pág. 1. Gazeta de Leopoldina, n° 07, ano 7, 02 de junho de 1901, pág. 2. Gazeta de Leopoldina, n° 08, ano 7, 09 de junho de 1901, pág. 1.

Fonte de Acesso: Biblioteca Municipal de Leopoldina, localizada no Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira, em 2018.